Vínculo, Cuidado e Desenvolvimento: o que transforma o Método Canguru na UTI Neonatal de Altamira

Desde o momento em que uma criança nasce prematura, começa um desafio que vai muito além da sobrevivência imediata: envolve nutrição, estimulação, regulação corporal, conforto emocional e interação com quem lhe deu a vida. No Hospital Regional Público da Transamazônica (HRPT), em Altamira (PA), uma prática humanizada aposta justamente nisso: o contato pele a pele entre mãe (ou pai) e bebê, mesmo nos casos mais frágeis — o chamado Método Canguru. Esse método não é apenas uma alternativa de cuidado, mas uma estratégia integradora que favorece a saúde física, mental e afetiva da binômio mãe-filho, e promove resultados clínicas e emocionais mais positivos.


O contexto que exige um cuidado maior

  • Bebês prematuros — nascidos antes do período gestacional completo — enfrentam múltiplos riscos: baixo peso, imaturidade de órgãos, necessidade de suporte vital na UTI Neonatal.
  • A separação precoce entre mãe/pai e bebê (tipicamente por suportes médicos, incubadoras, sondas etc.) traz efeitos adversos como menor produção de leite materno, estresse tanto para a criança quanto para os responsáveis, além de atrasos no desenvolvimento neurossensorial.
  • Em instituições de saúde, sobretudo em regiões menos urbanizadas ou com menor densidade de recursos, o desafio é incorporar práticas humanizadas com rigor técnico, segurança clínica e adaptabilidade ao contexto.

Os pilares do Método Canguru no HRPT

  1. Contato pele a pele
    O bebê fica sobre o tórax da mãe ou do pai, em posição segura, permitindo calor corporal, ritmo cardíaco e respiratório mais estabilizados. No HRPT, isso já está sendo realizado inclusive em passeios pelos jardins do hospital, nos dias de menor movimento. Agência Pará
  2. Integração familiar no cuidado
    A família deixa de ser mera espectadora e torna-se agente ativo no tratamento — participando dos cuidados, aprendendo a lidar com o prematuro, sentindo-se mais segura para exercer esse papel mesmo após a saída da UTI. Agência Pará
  3. Estimulação física, sensorial e emocional
    O toque, o cheiro, o calor, a voz da mãe ou pai ajudam no desenvolvimento neuropsicomotor do bebê; favorecem a resposta comportamental e emocional. Essas interações são especialmente importantes quando elas são precoces. Agência Pará
  4. Amamentação favorecida
    O contato próximo estimula a produção do leite materno, ajuda na lactação precoce e aumenta a frequência e duração do aleitamento. Agência Pará
  5. Redução de riscos clínicos
    Menores taxas de infecção hospitalar, melhor regulação de temperatura, menor estresse são alguns dos benefícios observados. Agência Pará

Passo a passo para implementar o Método Canguru com segurança e eficácia

Para que o método funcione bem, particularmente em UTIs Neonatais, é necessário seguir uma série de etapas cuidadosas:

  1. Avaliação clínica do bebê
    Verificar se o recém-nascido está estável o suficiente — respirando adequadamente, sem necessidade de ventilação invasiva intensiva, instável hemodinamicamente etc.
  2. Preparação da mãe/pai e do ambiente
    Orientações sobre higiene, suporte emocional, treinamento para segurar adequadamente o bebê; preparar ambiente com privacidade, calor adequado, ambiente tranquilo.
  3. Início gradual
    Nem sempre o primeiro dia é possível fazer contato prolongado. Começa-se com períodos curtos e vai-se aumentando conforme a tolerância do bebê e confiança da família.
  4. Supervisão multidisciplinar
    Envolvimento de pediatras, neonatologistas, enfermeiros, equipe de nutrição, psicologia, fisioterapia, entre outros, para garantir que o bebê está respondendo bem e que não há complicações.
  5. Acompanhamento contínuo após a alta
    Orientar os pais sobre cuidados em casa, visibilidade de sinais de alerta, amamentação, estimulação, manutenção do vínculo afetivo.
  6. Registro e monitoramento dos resultados
    Coleta de dados sobre tempo de internação, ganho de peso, incidência de infecções, desenvolvimento neuropsicomotor, satisfação da família. Isso ajuda a calibrar o método ao contexto local, melhorando eficiência e segurança.

Evidências e relatos: o valor humano e clínico

No HRPT, relatos de mães como Larissa e Deeny mostram que o método é mais do que uma prática técnica: é um alívio emocional, um momento de reconexão e esperança. Larissa, após três semanas com a filha na UTI, descreve o momento em que pôde pegá-la como “algo surreal”, que fez toda a diferença. Agência Pará

Do ponto de vista clínico, além dos benefícios já descritos, a instituição observou que a cada mês cerca de 10 prematuros e extremo-prematuros são internados. O método está sendo aplicado nos dias com menor movimentação, com maior conforto para mãe/pai e bebê. Agência Pará


Desafios e possibilidades de ampliação

  • Barreiras estruturais: UTI precisa ter condições de segurança para mobilização do bebê, equipe treinada, recursos para monitoramento (oxigênio, temperatura, integridade da pele etc.).
  • Resistência cultural ou desconhecimento: algumas famílias ainda desconhecem o método, ou têm medo de “mexer” no bebê prematuro; profissionais também precisam sensibilizar e educar.
  • Gestão de fluxo hospitalar: garantir espaço, tempo e privacidade para realização dos momentos de contato sem comprometer outros cuidados.
  • Políticas públicas de apoio: financiamento, diretrizes claras, incorporação em protocolos oficiais de saúde, para que o método não dependa apenas da boa vontade local.

A partir dessa experiência de Altamira, fica claro que o Método Canguru vai além de uma prática médica: é uma ponte entre fragilidade e força, entre medo e acolhimento. Ver mães retomando seu papel de cuidadoras, bebês reagindo ao calor, ao toque, à voz, à presença — tudo isso transforma a UTI não apenas em um local de tratamento, mas de cura integral.

Este é o tipo de cuidado que transcende os limites físicos das incubadoras, que redefine o que significa nascer prematuro: não só sobreviver, mas sentir-se apoiado, amado, estimulado. O impacto se prolonga para a vida inteira, na confiança dos pais, no desenvolvimento infantil, no elo que nenhum aparelho substitui.

Se cada hospital que atende prematuros pudesse incorporar, medir, ajustar e aprofundar essa prática, poderíamos assistir a uma mudança profunda no panorama neonatal brasileiro — com bebês mais fortes, mães mais seguras, famílias mais unidas. E, acima de tudo, com a certeza de que, mesmo nas menores vidas, mora um universo inteiro de possibilidades.

Sou casada, mãe de duas meninas e tenho 34 anos. Vivo intensamente as alegrias e desafios da maternidade, e foi justamente dessa vivência que nasceu o desejo de compartilhar experiências, aprendizados e dicas com outras mães. Aqui no blog, divido um pouco do que aprendi — e continuo aprendendo — nessa jornada cheia de amor, descobertas e crescimento.

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